Nota de Repúdio Contra a Violência Machista nas Redes Sociais

Fotografia de Gretel Marin

Fotografia de Gretel Marin

O Ondjango Feminista é um colectivo feminista autónomo de activismo e educação em prol da realização dos direitos humanos de todas as mulheres e meninas em Angola, comprometido com uma agenda feminista transformadora, a partir de uma perspectiva de justiça social, solidariedade e liberdade.  

O Ondjango Feminista manifesta veementemente a sua indignação e repúdio contra todas e quaisquer formas de violência machista que têm lugar nas redes sociais, em especial contra o discurso de ódio anti-feminista, lesbofóbico e misógino dirigido particularmente a mulheres que se assumem como feministas ou estão associadas a este colectivo.   

Por isso, foi com profunda indignação e preocupação que tomámos consciência dos ataques iniciados no dia 2 de Maio de 2020, na rede social Facebook, perpetrados por um grupo identificado de cidadãos. Desde o Ondjango Feminista não responderemos com ódio ao ódio e jamais alimentaremos a lógica do “nós contra os outros”, pois o objectivo deste colectivo não é, nem nunca foi, engajar em combates pessoais, mas sim combater o sistema de poder assente no patriarcado, no colonialismo, no racismo, na homofobia e no classismo.  

A violência virtual expressa por calúnia, difamação e injúria assola e ameaça activistas feministas não só em Angola como em outras partes do mundo, tendo como fim último a tentativa de silenciar e deslegitimar a actuação de movimentos feministas ou colectivos de mulheres que lutam contra o sistema patriarcal machista, sistema este que, historicamente, cria desigualdades sociais e económicas nas nossas sociedades, particularmente em Angola.  

Temos presente que, em alguns casos, este tipo de violência ultrapassou os limites das redes sociais noutras partes do mundo, com consequências graves na vida de algumas mulheres, através da manifestação de outras formas de agressão - psicológica, emocional e física -, colocando em perigo a dignidade e a liberdade das activistas feministas e de todas e todos os que se identificam com a causa. Inclusivamente, existem relatos de mulheres que tiveram de ter acompanhamento policial por sofrerem ameaças de morte.  

Compreendemos que a natureza deste tipo de ataque nada mais é do que uma consequência, lamentavelmente negativa, dos esforços e do trabalho diário empreendido por todas aquelas que acreditam nos valores da igualdade e que todos os dias desafiam as regras sexistas estabelecidas e conquistam espaços de palavra e acção. Contudo, reivindicamos aqui o nosso direito à liberdade de pensamento e de desenvolvermos as nossas actividades de forma segura e transparente, pelos direitos consagrados a nós na Constituição da República e no Protocolo de Maputo sobre os Direitos da Mulher em África.  

Reafirmamos que, apesar de tudo, estamos entusiasmadas para continuar com o trabalho que temos desenvolvido ao longo dos últimos quatro anos, para contribuir para o fortalecimento do movimento feminista em Angola. Nesse sentido, agradecemos, com todo o nosso coração, por todas as mensagens de apoio que temos recebido.

 A todas as mulheres que se sentem lesadas, ofendidas e ameaçadas por este tipo de violência, dirigimos a nossa mais sincera solidariedade. Não estão sozinhas.  Juntas continuaremos a criar, a ocupar e a defender espaços para a afirmação da nossa pauta feminista de direitos, de justiça e de igualdade, tanto online como offline. Juntas continuaremos a envidar esforços para exigir do Estado políticas públicas que garantam a protecção da nossa liberdade de consciência e de expressão, bem como da nossa integridade e autonomia.  

Seguimos juntas até que todas sejamos livres! 

Pela coordenação, 
Ondjango Feminista

Anterior
Anterior

ONDJANGO CONVERSAS: Resistência Económica das Mulheres

Próximo
Próximo

Violência Doméstica em tempos de isolamento social