Precisamos de Novos nomes

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Obra de NoViolet Bulawayo 

Por Leopoldina Fekayamãle

NoViolet Bulawayo é o pseudónimo de Elizabeth Zandile Tshele, uma escritora zimbabweana cujo nome figura dentre os mais importantes escritores africanos contemporâneos. Em Precisamos de Novos nomes, a autora levanta de forma profunda e subtil questões sobre os nossos contextos africanos nas vertentes social, económica, política e cultural. E digo “nossos contextos” porque se lermos este livro atentamente e procurarmos saber, pelo menos um pouco da vida social, económica, política e cultural de uma parte dos nossos países em África, entenderemos como temos vários pontos em comum. 

Muitas vezes, temos os nossos olhos desatentos para várias questões sociopolíticas dos nossos países africanos, e o que se nos oferece este livro é uma oportunidade de despertar para problemas sociais graves mesmo à nossa volta. Vários detalhes no livro, de forma subentendida, levam-nos a conhecer – e para muitos relembrar – a situação de precariedade socioeconómica e luta diária pela sobrevivência, que se enfrenta em vários pontos do continente. Esta obra reflecte a voz de muitas e muitos de nós: arrisco-me a dizer que o livro podia ter sido escrito por um angolano, um congolês, um moçambicano, um guineense, etc. Há um ar de voz comum, de voz colectiva, mesmo sendo uma história contada na primeira pessoa.

A história é narrada por uma menina de 10 anos, a Darling. Uma criança que vê sua infância marcada por conflitos sociais, miséria e um enorme desejo de mudar de território na esperança de ter uma vida melhor. Quantos de nós já reclamamos que a vida em Angola é ou está sempre difícil? Quantas vezes repetimos que já não haverão mudanças? Que o povo sofrerá sempre? Que é melhor emigrar para os famosos “países desenvolvidos”? Quantas vezes falamos do nosso país com desesperança? 

O lugar onde decorre uma parte significativa da história é fictício, entretanto, remete tanto a história do Zimbabwe, país de origem da autora, como a vários aspectos das trajectórias sociopolíticas de vários países africanos. O nome desse lugar é Paraíso, contrapondo a exactamente tudo o que um verdadeiro Paraíso significa. E pelas páginas do livro, neste Paraíso, vamos fazendo um percurso por temas como ditadura, perseguição política, ausência de liberdade de expressão, pobreza extrema, fome, pedofilia, e várias outras injustiças sociais. Entretanto, e não menos importante, deparamo-nos com temas intimamente ligados à opressão e exploração das mulheres como o estupro, e a exploração e desgaste com o trabalho de cuidado que recai maioritariamente sobre as mulheres e contribui para que elas se mantenham pior posicionadas socioeconomicamente.  

Há um tanto de profundidade nesse livro, muito bem reflectida na voz de uma criança. Uma criança que nos lembra como contextos de injustiças sociais comprometem o futuro de gerações vindouras. Uma criança que vai crescendo a sentir na sua trajectória de vida as implicações de ser natural de um país extremamente marcado por desigualdades sociais. Uma criança que também nos mostra o jogo de poder a nível geopolítico, onde uns países valem mais do que os outros e questões de raça e atitudes neocoloniais se conectam. Uma criança que nos lembra que “Precisamos de novos nomes”, ou, pelo menos, lutar por eles.

Estes novos nomes deverão reflectir mudanças estruturais nos nossos contextos africanos: uma aposta significativa na melhoria e no acesso aos serviços públicos de saúde, educação, habitação, justiça, etc.; um engajamento na exigência de líderes governamentais que dirijam os nossos países e nos governem com transparência, honestidade, responsabilidade e prestem contas dos seus actos. Uma transformação a nível ideológico e estrutural, em relação às questões de género, classe e raça que nos encaminhem a um bem-comum. 

Leiam NoViolet Bulawayo! Leiam e sintam-se encorajados a buscar por novos nomes. Leiam essa voz africana maravilhosa!

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