Porque é importante ler Sylvia Tamale
Por Cecília Kitombe
O artigo As Dez Faces da Sexualidade é de autoria da Professora Ugandesa Sylvia Tamale, expoente do feminismo africano. A mesma tem se dedicado à luta pela justiça social através do seu trabalho académico-prático em torno das questões de género e política, sexo e sexualidade nos países africanos. Aproveitamos a oportunidade para enaltecer o grandioso trabalho que ela tem feito para o desenvolvimento da ciência em África e em particular para o empoderamento da mulher africana, sobretudo em contextos de extrema desigualdade de género e violação constante de direitos humanos.
A tradução deste artigo, que pode encontrar no link acima, tem como finalidadeaprofundar o conhecimento em torno da sexualidade, desmistificando as teias que envolvem a problemática do sexo e sexualidade, ou seja, a autora em destaque leva-nos à reflexão profunda sobre as diferentes tramas que envolvem os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e, ao fazê-lo, apresenta-nos faces que vão desde a erótica, legal, reprodutiva, violenta, cultural, VIH/SIDA, política, religiosa, e por fim, mas não menos importante, a face subversiva (esta última, que se debruça sobre a problematização das outras faces na medida em que elas reduzem a sexualidade como meio de satisfação de interesses políticos, económicos e dominação da mulher pelo sistema patriarcal e outros).
Por conseguinte, torna-se fundamental aflorar que apesar da autora nos propor as dez faces da sexualidade de forma isolada, para fins pedagógicos, é possível percebermos que no nosso quotidiano estas faces se apresentam de forma integrada e com consequências directas na vida das mulheres.
Para o contexto angolano, o artigo é interessante na medida em que nos ajuda a ampliar a nossa compreensão em torno dos direitos sexuais e reprodutivos. Porque o mesmo se afigura como um problema social que afecta o exercício livre e responsável da sexualidade das mulheres, sobretudo quando o controlo da sexualidade fica à mercê dos decisores políticos e religiosos que se apegam a um discurso populista e reducionista, sob a máscara da “moralidade” e “preservação dos valores tradicionais da família”.
A garantia da saúde sexual e reprodutiva da mulher é um desafio enorme para as políticas sociais e para o marco legal de justiça do País, sobretudo, na actual conjuntura, onde a maior parte das mulheres não têm acesso aos serviços de saúdede qualidade, onde se regista uma ausência deeducação sexual e reprodutiva, e onde o aborto é criminalizado - mesmo sendo de domínio público que ela representa a terceira causa de morte materna e envolve questões de classes sociais. Portanto, há inúmeros factoresque demonstram a nossa preocupação em partilhar o presente artigo, que apesar de ser uma realidade ugandesa não deixa de ser aplicável a nossa realidade objectiva em Angola.
Aqui está ele, mais uma vez.
Boa leitura.