O Meu Aprendizado No FAOFEM'18

Por Cássia Clemente

Foto: Paula Agostinho

Foto: Paula Agostinho

Refletir sobre identidades, privilégios e igualdade nem sempre é uma tarefa fácil. Afinal, desempenhamos vários papéis sociais, comportamos crenças e valores que incidem na construção da nossa identidade. Quanto aos privilégios, a primeira dificuldade reside em entender: O que são privilégios? Quem são os privilegiados? Em seguida, abordá-los pode parecer uma afronta, sobretudo em uma sociedade manifestamente desigual. Entretanto, este constituiu um dos grandes desafios do FAOFEM 2018. 

A diversidade de mulheres presentes no Fórum ressaltou para confirmar que, de facto, somos todas diferentes, quer seja por características físicas ou emocionais. A diferença é intrínseco a nós e usá-la para compreender a complexidade e a amplitude do ser humano pode ser uma excelente forma de enriquecimento pessoal. No entanto, as lutas sociais não se orientam para abolir as diferenças naturais mas sim para minimizar ou erradicar as desigualdades sociais pautadas pelas relações de força, dominação e exploração de um grupo sobre o outro. 

Dentre os diversos argumentos, relatos e narrativas pessoais partilhadas no Fórum, constatamos ainda que o jugo desigual para além de contribuir para escamotear os talentos, retarda o desenvolvimento político, económico e sociocultural. As sociedades menos estratificadas são aquelas em que as desigualdades são mínimas e isso só é possível com a igualdade de oportunidades. 

O FAOFEM foi uma oportunidade ímpar de conviver com mulheres maravilhosas e inspiradoras de variados cantos do país. Proporcionou momentos indescritíveis de partilha e aprendizado. Em meio a dúvidas, esclarecimento, sentimento de pertença e responsabilidade, o FAOFEM nos ensinou que não se constrói um feminismo angolano sem o respeito pelas múltiplas identidades das mulheres; sem o reconhecimento dos nossos privilégios ou da ausência deles; sem o poder da acção colectiva; sem a construção de pontes de solidariedade baseadas na empatia, na irmandade e no exercício diário e muitas vezes doloroso da desconstrução. 

Contudo, apesar da raça, disparidades geográficas, sexualidade, estrato social e todas as particularidades que nos diferenciam, a luta pelos direitos das mulheres é um denominador comum que transcende todas as barreiras impostas pelo preconceito e discriminação. E, no final do dia, temos umas às outras na busca de uma igualdade plena e duradoura.

Anterior
Anterior

Mulheres resilientes, comunidades sustentáveis: o exemplo dos Gambos

Próximo
Próximo

FAOFEM'18: Construindo um caminho